16 julho 2009

24 HORAS

Celular toca às sete horas, às sete e cinco, e dez, e quinze. Ele levanta zonzo, vai até a cozinha, enche a panelinha de água, bebe um gole da torneira, acende o fogo. Foram três tentativas antes de atirar a caixa de fósforos pela janela; procura outra caixa na gaveta cheia de coisas, queima a mão, xinga, consegue fazer café. Toma pelando, fazendo ruído com a boca.
A água está gelada, que saco, melhor assim eu acordo, acabou o xampu, não vou fazer a barba, já estou atrasado. Veste a roupa com o corpo molhado, a meia não entra, o sapato está sujo, vai assim mesmo.

Na rua, uma névoa de poluição, não faz calor, nem frio, mais um dia como outro qualquer. Coloca os fones no ouvido, aumenta o som, se ficar surdo, foda-se. No ônibus, uma mulher bonita, com cabelos ainda úmidos cheirando a perfume bom. Trânsito dos infernos.
Entra no edifício de cabeça baixa, passa o crachá na catraca, espera o elevador. Não cumprimente ninguém, troca os fones pelos da empresa e começa a transcrever mais um relatório médico, dessa vez de um cardiologista, não conhece bem o vocabulário, terá de pesquisar.
Toma café. Na hora do almoço sai, compra coxinha e coca-cola, sorvete de casquinha do MacDonald, um real e cinqüenta; passa na banca e volta aos relatórios enfadonhos. Tecla com a namorada e os amigos no Messenger, responde e-mails, mais relatórios. Esse médico é fanhoso, o infeliz.

Vai para a escola, dorme não presta atenção. Volta para casa com frio e com fome, pega a pizza empenada de tão fria, mastiga com uma cerveja choca. Liga a televisão, dorme no sofá. Acorda com frio, tira a roupa, se enfia nas cobertas.

Celular toca às sete horas, às sete e cinco, e dez, e quinze...