Não quero perdão, quero respeito pela minha escolha. Não se sintam culpados, foi a maneira mais justa que encontrei. Sei que terão muito trabalho para limpar tudo, mas será bem menos do que me agüentar por mais um tempo. A velhice é longa e cara.
O que me preocupa é o fato de vocês não estarem preparadas para enfrentar o falatório depois. Caso eu esteja certo, mintam. Inventem uma história comovente e acreditem nela. A gente sempre acaba acreditando nas nossas mentiras. A morte faz parte da vida, mas as pessoas insistem em não aceitar, principalmente quando o sujeito decide, ele mesmo, a hora de partir.
Não sei se esse ato extremo e trágico foi resultado de súbita coragem ou premeditada covardia. Não sei o que vem depois, não sei nada. Não sabemos nada, essa é a verdade. Não gastem muito com caixão, flores, essas coisas. Doem tudo que puder ser aproveitado do meu corpo e cremem o que sobrar. A cerimônia é bonita e vocês podem escolher algumas músicas que eu gosto.
Vocês se lembram do dia em que ganhei aquele prêmio de literatura? Eu estava feliz, elegante, realizado, vocês comigo, as pessoas me cumprimentando... Lembrem de mim assim. È tudo o que eu quero.
2 comentários:
minha querida Sandra! Isto ficou tãaao real que parece-me conhecer o suicida. e real também éo sentimento que NOS imaginamos que passe pela cabeça de alguém a caminho de uma despedida. Nem em morte natural, nem em suicidio saberemos o que se passa realmente no momento extremo.Como eu sempre digo a morte, assim como o nascimento e como uma obra de arte, é um ato de solidão: estou começando a sentir medo....
Nossa,parece que você mesmo não me conhecendo,leu meus pensamentos,e colocou-os nesta carta,realmente sinto a vida e a morte desta forma e sei que cedo ou não muito tarde farei isso,porque não me imagino velha,sendo cuidada por ninguém,caso use estas suas palavras em minha carta de despedida,saibas que é devido a você ter colocado quase tudo que sinto nela.ok.Obrigado.
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