19 outubro 2009

Carta de um Suicida

Não quero perdão, quero respeito pela minha escolha. Não se sintam culpados, foi a maneira mais justa que encontrei. Sei que terão muito trabalho para limpar tudo, mas será bem menos do que me agüentar por mais um tempo. A velhice é longa e cara.

O que me preocupa é o fato de vocês não estarem preparadas para enfrentar o falatório depois. Caso eu esteja certo, mintam. Inventem uma história comovente e acreditem nela. A gente sempre acaba acreditando nas nossas mentiras. A morte faz parte da vida, mas as pessoas insistem em não aceitar, principalmente quando o sujeito decide, ele mesmo, a hora de partir.

Não sei se esse ato extremo e trágico foi resultado de súbita coragem ou premeditada covardia. Não sei o que vem depois, não sei nada. Não sabemos nada, essa é a verdade. Não gastem muito com caixão, flores, essas coisas. Doem tudo que puder ser aproveitado do meu corpo e cremem o que sobrar. A cerimônia é bonita e vocês podem escolher algumas músicas que eu gosto.

Vocês se lembram do dia em que ganhei aquele prêmio de literatura? Eu estava feliz, elegante, realizado, vocês comigo, as pessoas me cumprimentando... Lembrem de mim assim. È tudo o que eu quero.

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