13 outubro 2009

Preciso Morrer

Os médicos que vem durante a noite não me deixam dormir. São tão atenciosos, todos de branco, parecem anjos. Pena que não entendem que eu quero descansar. Tantos remédios me viram o estômago, perdi o paladar; o que talvez me apetecesse, não me dão e eu tenho horror de galinha, só o cheiro me faz mal. Culpa de minha mãe que me obrigava a limpar, escaldar e depenar. Hum...que asco!

Essa menina é a pior acompanhante, dorme feito uma pedra, nem me ouve chamar. Minha filha não puxou a mim que posso passar a noite em claro com duas ou três xícaras de café. Coitada, hoje conversou tanto, mas seus olhos assustados olhavam para todo lado, menos nos meus olhos. Eu amo tanto essa menina. Pensa que me engana com os diagnósticos que inventa a cada exame e acha que eu não entendi que a cirurgia foi em vão: abriram e fecharam, agora é só esperar.

Aquele túnel que eu vi na UTI foi um aviso, eu não queria voltar.

Estou cansada. Hoje quando veio o chá, não consegui levantar a xícara e levar até a boca. Minha mão tremia, o braço pesava, eu perdia o controle. Não tenho mais dignidade, nem autonomia. Detesto quando eles entram aqui e me invadem como quem enfia a mão em um saco de batatas, reviram as cobertas, me desnudam, esquecem que tenho pudor . Falam comigo com uma voz forçada como se eu fosse uma débil mental.Fecho os olhos aperto os punhos e entrego tudo a Deus, ele sabe o que faz.

Vou tentar ir ao banheiro. Se eu não conseguir, é porque preciso morrer.

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