30 novembro 2009

Mar

1.
No vai e vem das rendas esgarçadas de espuma rodeando seus tornozelos, pensava ser a única a gostar da imensidão cinza do mar nos dias frios. Afastou-se sem tirar os olhos do horizonte que mal conseguia decifrar e inalou a maresia. Água, sal, vida, começo de tudo. Êxtase.

Arrancou o cachecol e a japona, rodopiou e correu como quem se encontra com um grande amor. Livrou-se do resto das roupas e voltou para afundar os pés na beira mar. Depois, sentou-se. Apoiada nas mãos que também se afundavam, jogou a cabeça para traz, abriu as pernas e deixou-se possuir.

2.
No vai e vem das rendas esgarçadas de espuma rodeando seus tornozelos, seus pés afundavam. A lã molhada da calça pesava; o cinza do cenário também. Ela virou o rosto e viu, na ponte enevoada, dois vultos abraçados atirando algo no mar.

O vento bateu forte, ela sentiu como um véu tocando seu rosto. Passou a língua nos lábios, um leve gosto metálico, acre, desconhecido. A japona e o cachecol estavam com uma espécie de bolor apenas do lado direito, de onde vinha o vento.

Iria para o hotel, tomaria um banho quente, jogaria aquelas roupas fora. Tomaria um copo de vinho, poria uma flor no cabelo e sairia para dançar com uma vida nova, só dela.

27 novembro 2009

3 LINHAS

DE TANTO TATURANEAR
A INDOLENTE LAGARTA
BORBOLETEOU

A JOANINHA, COITADA
PERDEU AS BOLINHAS
E FICOU PELADA

O SAPO OSCAR TÃO FORMOSO ERA
QUE ACABOU VIRANDO PRÍNCIPE
EM PLENA PRIMAVERA

O CHINELO VELHO
TANTO SE ARRASTOU
QUE UM DIA SEU CAMINHO ENCONTROU

ARGOLINHAS DOURADAS
CACHINHOS DE MEL
ANGINHOS CELESTES VOARAM NO CÉU

O POBRE CAMALEÃO
MORREU ESPUMANDO
DE TANTO LAMBER SABÃO

SACI PERERÊ
PIROU NA PRAIA DO PEREQUÊ
PORQUE, VOCÊ SABE PORQUÊ?

A GORDA GOTA DE ORVALHO
ENGORDOU, ROLOU
CAIU DO CARVALHO

ERA UMA VEZ
UMA GALINHA CHOCA
QUE ADORAVA COMER PIPOCA

NA CORTE DO REI TONICO
AINDA SE USAVA PENICO

25 novembro 2009

Pele

Pele morena e doce
Que encosta e gruda
Como se imantada fosse
No desejo transpira
Cheiro de corpo
Calor de corpo
Enrosco, agonia
Mão na nuca
Pele fria
Mão na boca, nos seios
Um aperto, um abraço
Vem...
Me abraça de novo
Me mata de cansaço

Ela gostava de blues

Antes da cremação, os filhos foram à casa dela para ver o que teriam de jogar.
Ver o que poderiam ficar. Ver o que fariam com o resto.O resto.
Estavam tristes, sim estavam. Tarefa difícil, ninguém quer fazer.
Abriram gavetas, reviraram armários, constrangidos, meninos.
Na cômoda, uma caixa fechada. E a chave, onde está?
Acharam, abriram, choraram, sorriram, encontraram...
Uma foto, um momento, um amor. Uma carta, uma fita, um poema.
Ela escrevia poemas. Você sabia? Você sabia? Nem eu.
Um blues safado
Você e eu
De rosto colado
Seu corpo no meu
Os seus olhos blues
Os meus olhos blues
Seus olhos nos meus
Meu vestido blues
Me solto, me perco, suspiro , desmaio
Detesto parar
Você e eu, você e eu
De rosto colado
Um blues marcado
Meu corpo no seu
Os seus olhos blues
Os meus olhos blues

Diálogo

- Oi. Está pronta? Vamos logo por causa do trânsito.
- Você chegou cedo, que milagre!Eu estou pronta, só vou pegar um texto que escrevi para ela. Achei que precisava dizer algo na hora. Só um segundo, volto já.
- Antes, me diga onde está. Acho isso tudo muito estranho. Eu disse que preferia do jeito que todo mundo faz, mas você insistiu tanto... Ela deixou por escrito, tudo bem. Mas, até ai, vamos combinar que agora ela não apita mais nada, não é? Topei fazer isso só vou porque você me pediu.
- Está ali, ó, na estante. Eu não sabia onde por. Pedi uma urna simples porque vou jogar fora depois. Você pode pegar, para ir adiantando, e colocar dentro daquela caixa de caixa de papelão. No carro, a gente coloca no banco de trás. Acho melhor no chão, assim não cai. O que você acha? Levo no colo?
- Sei lá. Estou com medo de pegar, espero você descer.
- Vamos? Cadê a urna?
- Coloquei na caixa e já esta no carro, no chão, atrás. Eu senti uma coisa estranha, uma dor no estômago. Parecia que eu estava cometendo um sacrilégio. Eu baixei aquela música que ela gostava Miss Sally’s Blues, lembra? Ela vivia cantarolando, fez a gente assistir aquele filme triste pra caramba e todo mundo chorou. Achei que tinha a ver. Sei lá. Também achei que precisava levar alguma coisa.
- Gostei.
- Até que é uma boa pegar a estrada no meio da semana. Viemos tão rápido que eu nem senti. Vá olhando as placas, a sinalização aqui é horrível.
- Entra ali. São Vicente, Praias, Ponte Pênsil.
- Vou estacionar aqui.
- Nossa! Que lugar incrível. Ela dizia que vinha sempre aqui quando era pequena. Contava uma história de uma menina que tinha fugido de casa, atravessado a ponte correndo, com tamanquinhos de madeira e caído no mar. Morreu afogada, mas sua alma ainda perambula pela ponte. Quando as pessoas passam de carro ouvem esse barulho das tábuas são soltas e dizem que são os tamanquinhos da menina.
- Acho que aqui está bom porque o vendo está vindo de lá. Senão vem tudo em cima da gente.
- Não quero ler o que eu escrevi. Acabou. Agora nós somos a linha de frente.
- Abre logo, vamos jogar as cinzas antes que eu desmaie. Estou me sentindo mal.
- Putz! O vento virou!

10 novembro 2009

De Dentro do Armário

Aqui no escuro ninguém me acha, quem sabe eu me acho.

A fresta de luz deve ter uns três milímetros, a prateleira é resistente, as roupas têm meu cheiro. Quero ver se vou entender o que eu escrevi depois, se alguém vai entender o que eu escrevi depois. Vou escrever bem grande, em letra de forma, gastar o caderno todo.

Estou esfarrapada, dolorida. De manhã não quero sair da cama. Tem muita gente no mundo e todas falam no celular. Búfalos andam de metrô, veículos robustos empoderam idiotas, enxames de vespas escoam pelas ruas. As línguas se bifurcam, espirram perdigotos de veneno e meu antídoto está vencido. As calçadas não são para seres humanos, são para cães e suas babás. Os reflexos me perseguem, tenho ódio daquela mulher. Quando não consigo evitar, me aparece um espectro caricato do que eu não quero ser.

Nesse cômodo, não vejo: sinto. Eu gostava de menstruar. O toque do jeans, que não me serve há anos, me excita, as possibilidades de fazer sexo são mínimas. Liberdade é uma calça velha azul e desbotada, que você pode usar do jeito que quiser. Só não usa quem não quer... Eu quero, mas não posso; não me serve mais. Nem meus filhos usam mais jeans, são agora pessoas de terno.

Sou o coringão, o jockey do baralho. Valho o dobro na contagem, me encaixo em todos as jogadas mas, sozinho, não passo de um bobo da corte.

Uma Bela Mulher

Na mesa de aço inoxidável, o corpo de formas arredondadas e pele quase transparente foi dissecado com precisão. Retiraram os lençóis, limparam o cadáver, colocaram um suporte no meio das costas para levantar o tórax. Começaram pela unha do polegar direito que já estava meio solta. Puxaram-na devagar e uma nova unha despontava na carne rosada. Depois puxaram a do polegar esquerdo, igual. Arrancaram uma por uma as outras unhas das mãos e depois as dos pés. O dedão do pé direito já estava sem. Fungos por causa do sapato apertado.

Um corte diagonal desde o ombro direito até o peito, curvado em torno da base das mamas, antes de passar pelo osso esterno e chegar ao ombro esquerdo. Feita a incisão do peito até o púbis, formando o Y, uma massa vermelha e amorfa estufou de dentro do corpo e saiu em partes. O bisturi soltou a pele e o retalho foi puxado para cima do rosto. A tesoura gigante cortou o osso esterno e as costelas se abriram como uma gaiola macabra. Mãos ensangüentadas de borracha retiraram o coração e o colocaram na bandeja. Os demais órgãos foram examinados e pesados.

O bisturi afiado riscou a pele começando atrás de uma orelha, circundando o crânio até chegar à outra orelha. Afastaram o couro cabeludo em dois pedaços; serraram o osso e o cérebro, apareceu, pois a dura-máter permaneceu presa à base da tampa craniana. Removeram o órgão perfeito e o colocaram em uma bandeja, ao lado do coração. A pele do rosto foi retirada como uma máscara e a bela mulher se foi.

01 novembro 2009

Murciélagos

A praia, em dias cinzentos, traz monotonia de tons e paz. Observo o dia sem graça e todos os meus pensamentos escorrem pelo meu corpo e penetram a areia úmida e macia. Noto um pequeno barco se aproximar e espero. Entro na água até onde dá pé e observo o barqueiro que rema como quem sabe o que faz. “Quer vir?” - pergunta ele. Digo que sim e, com certa dificuldade, subo no barco arfando. “Vamos do outro lado ver a gruta”, explica o moreno cuja pele mais parece um couro. Eu concordo balançando a cabeça e torcendo o cabelo molhado.

Mal se nota a abertura da gruta no meio da vegetação tropical. Precisamos deitar no barco e esperar uma marola para poder entrar. Depois de algumas tentativas conseguimos. Estou com medo, mas sei que vou gostar.

A pedra é escura cinza por fora e branca por dentro. A parte da gruta que fica no fundo do mar é aberta permitindo que a luz entre por baixo e reflita o azul da água. A sensação é de estar dentro de uma imensa água-marinha. Ouço o som da água pingando, olho para cima e vejo alguns retângulos de veludo enfileirados, presos pelo centro e pendurados nos estalactites. Morcegos. S

Desço do barco agarrando-me às pedras e peço para o barqueiro esperar. Sinto-me desprotegida por estar em traje de banho, tento percorrer uma espécie de trilha com muito cuidado. Estou curiosa. Além do som dos pingos pingando ouço apenas a minha respiração. Busco pela escuridão total, mas ela nunca acontece, sempre há uma luz que vem das águas cristalinas como se não houvesse mais nada que pudesse me surpreender.

Quando finalmente sinto escurecer me assusto e paro. “Quem está aí?” digo eu várias vezes até dois olhos imensos encontram os meus. São olhos apenas. Eu não consigo ver nem sentir nenhum corpo, apenas dois olhos, ora azuis, ora verdes, que se confundem com o azul e o verde que vem da luz do fundo do mar.

Continuo encarando os olhos e uma voz me diz que são os olhos da morte. “Não!” digo eu, “São os olhos do amor!” Sinto os olhos dentro dos meus olhos e sei que aqueles olhos são os olhos do amor. Mergulho no abraço por tempo indefinido.

Preciso voltar.

Agarrada às pedras, percorro a trilha de volta, entro no barco onde o moreno me espera, olho para os retângulos de veludo.

“Murciélagos”, sussurram eles. Suspendo minha respiração para ouvir melhor aquele mantra que ecoa sinistro, um convite para voltar.

O barqueiro rema com habilidade e logo estamos de volta à praia.

A Rosa

Sentir, sonhar sensibilizar.
Sentir o senso suscetível.
Sonhar sentindo a maciez das pétalas nos sentidos
nos sentimentos
nas sensações
que levam a uma outra dimensão do sentir.

A veneziana, que a pouco estava aberta, escancarada, se fecha para trazer a intimidade da sombra ao quarto. Dentro, a cama antiga e os lençóis de linho convidam os corpos nus e quentes do sol lá de fora.

Com a sensação da rosa branca que percorre seu corpo ela se entrega ao momento do sentir e sabe, com cada célula de seu corpo, que sexo é sentir sozinha a sensação do ser. Brinca com a rosa que percorre suavemente a exuberância de suas formas sinuosas, enquanto abre sua alma para a luxúria.

O espelho do guarda roupa, que é o reflexo da imagem da entrega, ajuda a compor a cena. O sol quente da tarde de verão insiste em penetrar pelas frestas da veneziana enquanto os corpos se entrelaçam, lutam, estremecem. O quarto, o lençol, o chão, as paredes e o teto listram listras de claro/escuro.

A rosa, que era botão, começa a se abrir, de certo por causa dos corpos que ardem, rolam de desejo e verão, só de sentir a rosa a tocar os sentidos.

Ela arranca a rosa, que agora é uma intrometida, e a arremessa ao chão.

Cai a rosa sem sentir a sensação do permear de suores, salivas e sais. Os odores, os fluídos e os sabores, os cheiros dos amantes se misturam e o sol insiste em invadir aquela solidão de sentir a dois.

Sozinha no chão, a rosa deixa que suas pétalas se abram e se despreguem da haste uma a uma, lentamente, murchando de pura inveja de não poder sentir o que os corpos molhados sentem nos lençóis de linho da tarde morna.

Morre a rosa sem sentir o que fez com que a outra, suspirando e gemendo, sentisse.

Cubaníssimo

Quem, eu?
Sim. Eu sou cubano.
Nasci em havana, em dezessete do sete de sessenta e sete. Hoje completo trinta e três anos e penso em Jesus quando começou a pregar. Sinto uma necessidade urgente de me expressar e deixar registrada minha experiência de vida, que modestamente considero intensa e interessante. Posso dizer que hoje, começando a vislumbrar os primeiros traços de maturidade, reconheço os caminhos difíceis por onde a inexperiência me fez passar.

Eu sou filho da revolução e, apesar de não concordar com muitas de suas atitudes, posso dizer que devo a Fidel minha educação acadêmica. No entanto, minha formação como pessoa e como homem devo à minha família, ao meu pai e à minha mãe.

Com a revolução, meu avô perdeu todo o patrimônio que demorou quarenta anos para construir, ficando apenas com uma propriedade onde a família vive até hoje. Quando eu era pequeno, podia perceber que os tempos eram difíceis, mas não me lembro de vê-los revoltados e tenho certeza de que nunca os ouvi reclamar. “Meu filho, a nossa pátria é o mundo”, dizia meu pai. “Ame a vida e em tudo o que fizer, faça o melhor”.

Não concordo com os exageros nas condutas e na disciplina do sistema, mas gosto de lembrar dos tempos de estudante, quando todos os meninos com uniformes absolutamente iguais se reuniam no pátio da escola para hastear a bandeira.
Hoje eu sei que na verdade não há igualdade, pois a competição é inerente ao ser humano. Cada menino de uniforme queria ser o melhor e se empenhava para isso.
Tabuada, gramática, história, geografia, música ou esporte, todos tinham a oportunidade de se destacar, mas não pela roupa que estavam vestindo, pelo relógio ou tênis da moda, e sim pela dedicação e capacidade. Quando os valores materiais são subestimados, os verdadeiros valores têm a chance de brilhar. Gosto de lembrar da minha emoção, quando me esforçava para ser o melhor. Ao ganhar tudo perdia o sentido e era hora de recomeçar.

O exagero na disciplina, com o qual já disse que não concordo, gerava medo e repressão. Dependendo da falha cometida, perdiam-se pontos no boletim e às vezes o pai também era castigado. Hoje, esse fato parece uma crueldade, mas naquele tempo estava no contexto, já estávamos acostumados e fazia parte da rotina. A energia era canalizada para outros lados e conseguíamos vencer dificuldades maiores que certamente não venceríamos num regime mais liberal.

O ensino era amplo e aprendíamos de tudo. O currículo escolar era completo e com muitas horas para estudo. Os esportes ajudavam a liberar a tensão e toda aquela energia que se tem numa infância saudável. O atendimento médico e dentário, com acompanhamento periódico, era para todos, sem exceção.

No segundo grau, fizemos a Escola de Campo. Você me diz o quê, e eu digo como plantar: batata, mandioca, feijão, cana, milho, morango. Plantar e colher morangos para exportação era parte do programa. As frutas eram trocadas por produtos de primeira necessidade e não podiam ser comidas. Ninguém conhecia morango. No primeiro dia, foi uma festa! Todos comeram muito até ficar com a língua vermelha. Mas o castigo não tardou: no dia seguinte, uma patrulha de inspeção pedia que os meninos mostrassem a língua e os de língua vermelha foram duramente castigados. Nunca mais comi morangos.

As filas de meninos trabalhando na plantação eram enormes; na frente de cada menino havia uma estaca e as estacas eram unidas por uma corda fina. À medida que as sementes eram plantadas, a um sinal, cada menino fincava a estaca na terra um metro mais adiante. Enquanto me concentro para poder descrever, respiro fundo, sinto o cheiro da terra e do suor e ouço o sinal: yuuiiii! E a fila de meninos com estacas seguia adiante mais um metro de campo semeado. Era duro, mas havia beleza e poesia naquele trabalho comunitário. Hoje eu entendo a importância de se aprender o valor da terra e dos frutos que ela pode dar.

Sou engenheiro eletricista e, por ter escolhido a carreira certa, quando peguei meu diploma, queria minha profissão. No entanto, depois de formado, quando passei mais dois anos totalmente afastado da cidade trabalhando para o governo para pagar meus estudos, foi que completei minha educação aprendendo com a sabedoria das pessoas do campo.
Hoje não me falta trabalho e procuro não recusar.

Um dia eu vou levar você para Cuba, você vai adorar minha gente e depois você me leva para o Brasil. Por você, eu já sei que vou gostar.

Quando você sentir saudades de mim, olhe para a lua, cheia, de preferência, e nos contornos de cinza e prata sabrás que te quiero, mi amor.

Miami que Eu Gosto

agonia, arrependimento, bravura, banzo, calma, confiança, curiosidade, deslumbramento, desespero, entusiasmo, exaustão, felicidade, gratidão, horror, incompetência, impotência, julgamento, lucidez, merda, americano é um saco, nacionalismo, otimismo, ousadia, puta que o pariu quanto cubano, questionamento, relutância, solidão, tristeza, universalidade, vazio, xamanismo, zelo, zona, zorra, zumbido, zumzumzum...

O abecedário inteiro, repetido várias vezes, não é suficiente para classificar tudo o que se sente morando em terras estrangeiras. Pelo menos no meu caso. Às vezes eu sentava na rua e chorava, às vezes eu ficava tão eufórica que achava que estava vivendo um filme, às vezes eu queria morrer. Depois, passei a me sentir culpada por não estar feliz num lugar tão lindo e organizado. As inevitáveis mudanças aconteciam e eu me sentia como uma grande árvore que havia sido arrancada do solo e era levada daqui e de lá, sacudindo suas ramas e deixando que suas raízes se ferissem sem a proteção da terra.
Demorou muito tempo para saber se gostava ou não e mais ainda para achar que estava tudo bem. Quando comecei a entender o processo, já era hora de voltar.

Miami, cidade de que aprendi a gostar.