30 novembro 2009

Mar

1.
No vai e vem das rendas esgarçadas de espuma rodeando seus tornozelos, pensava ser a única a gostar da imensidão cinza do mar nos dias frios. Afastou-se sem tirar os olhos do horizonte que mal conseguia decifrar e inalou a maresia. Água, sal, vida, começo de tudo. Êxtase.

Arrancou o cachecol e a japona, rodopiou e correu como quem se encontra com um grande amor. Livrou-se do resto das roupas e voltou para afundar os pés na beira mar. Depois, sentou-se. Apoiada nas mãos que também se afundavam, jogou a cabeça para traz, abriu as pernas e deixou-se possuir.

2.
No vai e vem das rendas esgarçadas de espuma rodeando seus tornozelos, seus pés afundavam. A lã molhada da calça pesava; o cinza do cenário também. Ela virou o rosto e viu, na ponte enevoada, dois vultos abraçados atirando algo no mar.

O vento bateu forte, ela sentiu como um véu tocando seu rosto. Passou a língua nos lábios, um leve gosto metálico, acre, desconhecido. A japona e o cachecol estavam com uma espécie de bolor apenas do lado direito, de onde vinha o vento.

Iria para o hotel, tomaria um banho quente, jogaria aquelas roupas fora. Tomaria um copo de vinho, poria uma flor no cabelo e sairia para dançar com uma vida nova, só dela.

Um comentário:

Maurici disse...

maravilha!
bjs
maurici