01 novembro 2009

A Rosa

Sentir, sonhar sensibilizar.
Sentir o senso suscetível.
Sonhar sentindo a maciez das pétalas nos sentidos
nos sentimentos
nas sensações
que levam a uma outra dimensão do sentir.

A veneziana, que a pouco estava aberta, escancarada, se fecha para trazer a intimidade da sombra ao quarto. Dentro, a cama antiga e os lençóis de linho convidam os corpos nus e quentes do sol lá de fora.

Com a sensação da rosa branca que percorre seu corpo ela se entrega ao momento do sentir e sabe, com cada célula de seu corpo, que sexo é sentir sozinha a sensação do ser. Brinca com a rosa que percorre suavemente a exuberância de suas formas sinuosas, enquanto abre sua alma para a luxúria.

O espelho do guarda roupa, que é o reflexo da imagem da entrega, ajuda a compor a cena. O sol quente da tarde de verão insiste em penetrar pelas frestas da veneziana enquanto os corpos se entrelaçam, lutam, estremecem. O quarto, o lençol, o chão, as paredes e o teto listram listras de claro/escuro.

A rosa, que era botão, começa a se abrir, de certo por causa dos corpos que ardem, rolam de desejo e verão, só de sentir a rosa a tocar os sentidos.

Ela arranca a rosa, que agora é uma intrometida, e a arremessa ao chão.

Cai a rosa sem sentir a sensação do permear de suores, salivas e sais. Os odores, os fluídos e os sabores, os cheiros dos amantes se misturam e o sol insiste em invadir aquela solidão de sentir a dois.

Sozinha no chão, a rosa deixa que suas pétalas se abram e se despreguem da haste uma a uma, lentamente, murchando de pura inveja de não poder sentir o que os corpos molhados sentem nos lençóis de linho da tarde morna.

Morre a rosa sem sentir o que fez com que a outra, suspirando e gemendo, sentisse.

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