10 novembro 2009

Uma Bela Mulher

Na mesa de aço inoxidável, o corpo de formas arredondadas e pele quase transparente foi dissecado com precisão. Retiraram os lençóis, limparam o cadáver, colocaram um suporte no meio das costas para levantar o tórax. Começaram pela unha do polegar direito que já estava meio solta. Puxaram-na devagar e uma nova unha despontava na carne rosada. Depois puxaram a do polegar esquerdo, igual. Arrancaram uma por uma as outras unhas das mãos e depois as dos pés. O dedão do pé direito já estava sem. Fungos por causa do sapato apertado.

Um corte diagonal desde o ombro direito até o peito, curvado em torno da base das mamas, antes de passar pelo osso esterno e chegar ao ombro esquerdo. Feita a incisão do peito até o púbis, formando o Y, uma massa vermelha e amorfa estufou de dentro do corpo e saiu em partes. O bisturi soltou a pele e o retalho foi puxado para cima do rosto. A tesoura gigante cortou o osso esterno e as costelas se abriram como uma gaiola macabra. Mãos ensangüentadas de borracha retiraram o coração e o colocaram na bandeja. Os demais órgãos foram examinados e pesados.

O bisturi afiado riscou a pele começando atrás de uma orelha, circundando o crânio até chegar à outra orelha. Afastaram o couro cabeludo em dois pedaços; serraram o osso e o cérebro, apareceu, pois a dura-máter permaneceu presa à base da tampa craniana. Removeram o órgão perfeito e o colocaram em uma bandeja, ao lado do coração. A pele do rosto foi retirada como uma máscara e a bela mulher se foi.

Nenhum comentário: