16 março 2010

A mãe, a filha e o neto

A mãe, com seus setenta e muitos, acabada, pele enrugada, queimada de sol. Não devia pentear os cabelos há dias, carteirinha de ziper na mão. O neto, no banco de trás, ia olhando as placas de rua e informando quantos pontos ainda faltavam para chegar. A filha, coitada, me olhou com o olho bom e sorriu; segurava a bengala, tinha o pé e metade dos quadris saindo para fora do banco e ocupando parte do corredor.

Olhei para os três e sorri. Calor dos infernos logo as dez horas da manhã e eu pensando na vida. Nisso entrou uma mulher bem vestida e muito perfumada. Depois de um ataque de tosse, mudei para o bando ao lado do neto atento.

Em frente ao hospital, a mãe pede para descer. Puxa a filha pelo braço e manda o neto ir andando na frente. Demoram alguns minutos para descer os três degraus, os carros buzinam, o motorista espera pacientemente. Ainda bem. Na rua, a mãe vai falando com a filha como se essa tivesse 5 anos de idade e os três atravessam a rua, fora da faixa, entre carros e motos.

E tem gente que reclama da vida.

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