10 novembro 2010

Hotel Paulistano

Hotel paulistano

Dentro do táxi e sob intensa chuva nas ruas de São Paulo, Fernando começou a fazer as ligações.

- Dr. Alberto, boa tarde. Meu hotel foi trocado? O endereço é da Marginal Tietê!

- Eu sei que hoje é domingo, seu Alberto...eu sei ...eu sei...mas...o lugar é horrível.

- Tudo bem, tudo bem...não ligo mais. Boa noite.

Outra chamada. O barulho da chuva fica mais forte.

- Monica? Tudo bem. Estou em São Paulo. Não está em casa? Está me ouvindo? Ah sim, sim...eu ligo mais tarde. Beijo.

O taxista tentou puxar papo e Fernando interrompeu-o com uma esticada de braço.

- Rubens? E aí camarada? Cheguei em São Paulo. Vamos tomar uma? Sério? Eu queria estar alto assim como você. Não tomei nada hoje. Mas, escuta: posso passar uns dias na sua casa? Ah...brincou? Casado? Mas morar junto com uma mulher também é uma espécie de casamento. Tudo certo. Tudo certo. A gente se vê.

A bateria do celular estava prestes a acabar. Mesmo assim ele insistiu em novos telefonemas.

- Diego! Irmãozinho...como você está? Preciso de um grande favor. Me passe o telefone da Rebeca. 839...o quê? Ah...então é o mesmo. Abraço.

O celular ia desligar antes da conversa com a amiga, mas arriscou.

- Rebeca! Moça, moça...estou em São Paulo. Minha empresa me mandou pra Margina Tietê. Quero ficar na sua casa! Por favor! Calma Rebeca! Sei que nem disse oi, mas a bateria vai acabar...

E acabou.

- Motorista! Você me empresta seu celular? Ah...entendo...pare num orelhão então, por favor!

Todos os orelhões estavam inundados nas calçadas imundas.

- Mudemos de caminho, motorista. Você pode beber uma cervejinha comigo?

Fernando imaginou que o taxista pudesse morar num bairro razoável, perto da Paulista e ainda por cima tivesse um quarto de hóspedes disponível.

Marcelo Fabri

Um comentário:

Blog da Bruna disse...

Sandra, não sei quem é Marcelo Fabri mas a crônica me fez rir, pensar e analisar bastante o nosso tipo de vida atual...Corremos, corremos, temos muitos conhecidos, nos convencemos de ser felizes conosco mesmos e no fim somos uns eternos solitários! amen.