19 setembro 2011

Mulheres no ônibus

Uma beirava os setenta, bela ainda, olhos azuis, cabelo prateado. Sentada no primeiro banco, encostada à janela, tinha nas mãos um envelope gigante com logotipo de laboratório. A outra, com mais de cinquenta e também com envelope enorme, pediu licença e sentou-se ao lado da primeira.

O ônibus ia sacolejando e as duas em silêncio. Verão abafado por causa do asfalto quente, reflexos de sol batendo nos vidros dos carros. A de setenta vira para a de cinquanta e diz:
- Eu tenho um problema de saúde muito sério.
- Câncer?
- Não.
- Diabetes?- pergunta a de cinquenta que acabara de saber que tinha e estava desolada.
- Pior - responde a outra com cara de velório - e completa - minha vagina colou.
- Como?
- Minha vagina colou, assim, os dois lados estão juntos... - disse a coitada juntando as mãos.
- Grudou?
- É. Grudou. Não posso mais ter relação. Meu marido reclama. Ele ainda gosta.
- Nossa!- exclama a de cinquenta sem saber o que dizer.
- É muito raro acontecer isso, mas acontece. Problema hormonal, o médico falou que só operando, mesmo assim é complicado, vou consultar mais um. Já fui em dois e não resolveu. Agora vou num que a minha cunhada me falou, lá em Santana.
- Que coisa, sinto muito. Mas acho que o carinho, o afeto, o companheirismo também são importantes, não é? Pelo menos vocês se gostam, estão juntos há muitos anos, imagino...ficam juntos vendo tevê de mãos dadas, se abraçam...
- Pois é, mas não é bem assim, não. Está difícil porque a gente gosta de sexo mesmo. A gente ainda tem desejo, mas não pode fazer direito.
- Sinto muito...

Continuaram em silêncio compartilhando aquela intimidade inesperada às três horas da tarde. A de cinquenta ficou pensando como que uma pessoa fala uma coisa dessas para outra que nem conhece? De certo porque estava sofrendo muito, precisando compartilhar uma dor. Pensou que se acontecesse com ela, o que faria? Se a siua vagina um dia iria colar, que coisa, nunca tinha ouvido falar uma coisa dessas.

De repente, a de setenta disse:
- Ele gosta de sexo oral, mas eu não.

Constrangida a de cinquenta resolveu descer.
- Boa sorte minha senhora, meu ponto é aqui, preciso descer. Até mais ver.

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