29 novembro 2011

Carta de Solange Arruda recebida em 29/11/11

" Passei a tarde no parque lendo
Um traço, Um Ponto,  Um Poema, Um Conto, de Sandra Schamas, até o fim.
Gostei dele ao abri-lo.
Não era cheio de letrinhas espremidas.
Tinha vazios, desenhos.
Dava vontade de ler.
Não senti preguiça.
Chorei.
Chorei muito.
De emoção.
De saudades da minha vida, tão intensa.
Dos meus casamentos bem sucedidos, mas que se acabaram.
Depois sorri.
Tomei um café e voltei para casa.
Inspirada.
A chuva caiu.
Uma boa chuva de verão.
Amei!"

Meu livro tão singelo, que para alguns nem é um livro, para outros poderia ter sido feito por qualquer um! Sim, claro, poderia ter sido feito por qualquer um, só que foi feito por mim. E publicado. E exposto à críticas. E tudo mais.  Meu livro sincero emocionou Solange. Só por isso já valeu !

Obrigada So1.

25 novembro 2011

Cena de crime

A casa está vazia e escura. Na sala, vê-se o contorno do sofá e os quadros na parede parecem borrões. As cortinas pesadas abafam o som que vem da rua. O corpo, que horas antes sonambulava pela casa, agora se esvai em sangue.

A casa teve muitos donos, tinha fama de assombrada e agourenta. A poça de sangue ao lado do morto confirma a sina. Amanhece, chove, anoitece, tudo permanece intacto. No segundo amanhecer o vizinho se preocupa, toma uma atitude e quase arrebenta a campainha de tanto tocar. Pula o portão, dá a volta na casa, pé ante pé, receoso. Descobre que a porta da frente não está trancada, entra. Quando vê o corpo do amigo em início de decomposição para, em choque e passa a fazer parte do cenário estático. Alguém atira o jornal na varanda, o pobre vizinho se dá conta, tira o celular do bolso, liga para a polícia, enquanto contorna o cadáver e tenta explicar o que vê. Percebe o buraco na testa e corre vomitar no banheiro.

Vem a polícia, o resgate, a perícia, o fotógrafo, o delegado, o rabecão do IML entra e estaciona no corredor lateral. Os funcionários abrem a porta de traz do veículo, retiram o gavetão galvanizado, entram com ele na sala, depositam no chão. O homem era corpulento, tiveram dificuldade de erguê-lo enrijecido e colocá-lo no caixão.

Fica o tapete empregnado de sangue e o cheiro da morte se espalha.

O vizinho, ainda chocado, vai para casa e conta para a mulher. Mais tarde, o casal assiste ao noticiário quando o telefone toca. Era a filha pedindo dinheiro emprestado. Voltam às notícias, o telefone novamente, dessa vez o celular. Engano.

A sombra sinistra da casa ao lado se espalha, eles ficam com medo. Ouvem o portão de ferro bater, espiam pela janela. O vento apenas varre as folhas.

Amanhece, chove, anoitece, tudo permanece intacto. Mais uma casa vazia e escura. Na sala, vê-se o contorno do sofá e dois corpos se esvaem em sangue.