Descobri seu nome por acaso. Vinte e poucos anos, argolinha de prata na orelha esquerda, anel
de formatura. Cabelo espetado cheio de gel, óculos de metal na ponta do nariz e
um tablet que parece fazer parte do seu corpo desleixado. Aperta o botão que
abre a porta, cumprimenta quem entra na clínica, atende ao telefone fixo,
indica onde é o banheiro. Não tira os olhos da tela!
Reparo seu rosto redondo, a barba crescida e mal desenhada. Não deixou bigode, de certo para realçar sua boca carnuda. Não sorri, boceja o
tempo todo. Finalmente se levanta e começa a embaralhar guias de consulta. A
calça jeans, com braguilha meio aberta, deixa aparecer uma cueca preta. Não
consigo desviar meus olhos do elástico encardido e frouxo. Chama a senhora de
cadeira de rodas e aponta com o braço a sala em frente - sem levantar a cabeça.
Ouço meu nome e o braço agora indica a escada. “Vamos lá?” Ele é o fisioterapeuta,
por isso o anel destoando do resto.