Fim de
tarde. Zé gostava do frio, gostava de pensar que estava em algum país da
Europa, que seu café era em Paris, tinha até colocado um poster da torre
Eifell, meio rasgado nas beiradas, na parede ao lado do balcão. Sentia-se bem nos
seus devaneios enquanto limpava as mesas.
Uma mulher
madura se aproxima, sorri sincera e pede um café. Logo depois, quem ela estava
esperando chega andando apressado e senta-se ao seu lado. Dava para notar que
era bem mais jovem que ela. Terno sóbrio, gravata discreta, sapato de cromo
alemão. Também pede um café. Curto, por favor.
- Você não mudou... - diz ele .
- Dez anos ? Ou mais ? - diz ela , sem sequer ousar olhar
nos olhos
dele com medo
de morrer envenenada.
Algumas
horas antes…
Ela
está pronta para
sair e, como sempre , anda pela casa feito barata tonta , certificando-se de que
não esqueceu de nada .
Revira a bolsa , pega
a chave de casa
com uma mão
e, com a outra ,
liga o celular .
Mais uma olhadinha no espelho do lavabo
e abre a porta para
chamar o elevador .
O telefone toca e uma voz familiar pergunta quem fala . Ela
responde hesitante e ele se identifica. Silêncio .
Passa o
dia sem nem um
pingo de concentração
fala ao telefone ,
responde e-mails , participa de uma longa reunião , olha no relógio ,
não quer
almoçar . Toma
água, desce até a calçada para fumar um cigarro ,
finge que trabalha
mais um
pouco e vai ao encontro
de um fantasma ,
de alguém que
ela duvidou que
um dia tivesse existido. Aqui jazz um amor de adolescente .
Não
sente o chão sob
seus pés .
Será que eu
estou bem ?
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