21 dezembro 2015

Sobre o livro Sopro de Concha Celestino


SOPRO- Concha Celestino -  Livrus - 2015

Com lançamento de sua primeira novela de ficção, Concha Celestino teve movimentada tarde de autógrafos
No dia 3 de outubro de 2015, Livraria Martins Fontes da Paulista,  na seção de artes, uma fila de leitores aguarda ter seu livro autografado  por essa paulistana que faz seu primeiro vôo solo e não passa despercebida. Integrante do coletivo literário Martelinho de Ouro, que por sua vez nasceu no b_arco, em uma das oficinas de Marcelino Freire, Concha participou de Achados e Perdidos, Serendpt e dos dois fanzines do grupo lançados na Balada Literária de 2014 e 2015.

Concha Celestino graduou-se em Letras na USP e trabalhou como professora de Português e Inglês. Mas foi só em 2007 que começou a frequentar o Escrevivendo, na Casa das Rosas, e arriscou-se a compartilhar seus belos textos. Impossibilitada de dar aulas por problemas de saúde, optou por colocar no papel sua sensibilidade e talento, na ocasião, ainda tímidos. Um dia, motivada por uma foto de Otto Stupacoff, escreveu um conto sobre Ian, um garoto que fica de castigo na escola por desenhar na parede com giz. Esse menino ganha pai, o pintor Marco, e mãe, a delicada Flora, e a narrativa vai tomando corpo. Segundo Concha, o envelhecer, os lapsos da mente, são aspectos da vida que a intrigam, pois trazem sentimentos ambíguos. Pensando nisso, surge a mãe de Flora, a velha Valentina que vive em uma clínica de repouso, e a avó de Flora, Ana Filotéia, que aparece em sonho para as duas. Nesse universo feminino entra Daluz, a cuidadora e cria da casa, e a “malvada” Tonha, a irmã de Valentina, alvo de suas implicâncias e ciúmes.

A obra é apresentada por um narrador, que logo se perde, dando voz à Flora cuja narrativa é mesclada com a da mãe. Marco, sempre no atelier, também narra seus conflitos e “nebulosidades”, como diz a autora.

A linguagem é fluida, e essa sobreposição de narradores pode confundir o leitor, mas não chega a atrapalhar o fluxo do texto, onde a natureza vai permeando os pensamentos dos personagens e trazendo certa poesia, que, de certa forma parece os confortar em meio a tanta dor.  Com sensibilidade e domínio total do texto, a autora nos surpreende com frases como  “Ontem mesmo, quebraram meu sono a marretadas, uns baques surdos estremeciam chão, paredes, cama, armários.”. 

Traz  sinestesia quando diz “...sentir o cheiro das frutas amadurecendo nas árvores”, ou “... dois troncos vigorosos subiam lado a lado, quase iguais, e só no alto abriam-se em galhos, espalhando sua renda móvel sobre o fundo azul.”.

Muita vezes tragicômico, o mau humor da velha aparece. Por um lado, ela já está cansada de viver e, por outro, viaja no tempo em que era criança e brinca livre no Venhaver, sítio à beira-mar onde nasceu e para onde quer voltar. As imagens lembram quadros de Sorolla quando se lê frases como “Vi logo que era vó Filó pelo andar inconfundível, seu modo de plantar os pés na areia e de mover o corpo com suavidade, como se planasse. A espuma lambia-lhe os pés, sua saia e os cabelos revoavam, saturados de luz”... Ou quando a autora descreve  que “ ela já flutuava acima da água, a saia ondulante inflada como um balão...

Publicado pela Livrus Editorial em 48 capítulos breves, porém densos, tem capa e projeto gráfico idealizados pela autora que, segundo a publisher da Livrus, Cris Donizete, cuidou pessoalmente de cada detalhe. “Veio com projeto bem constituído na cabeça, fez um belo trabalho de pesquisa. Ao mesmo tempo exigente e fácil de lidar, Concha acompanhou tudo passo a passo”, explica Cris.

Especialista em e-books, Ednei Procópio, o editor conta que a versão de SOPRO em e-book está em todos os portais de vendas de livros eletrônicos. Quanto ao lançamento, afirma que as vendas da versão impressa foram além das expectativas. “Se tivéssemos feito mais livros, teríamos vendido.”.  

3 comentários:

concha celestino disse...

Sandra, não tinha ainda visto esta resenha em seu blog. Que honra e que alegria encontrá-la publicada! Super obrigada pela leitura cuidadosa e pelos comentários. Como sempre, vc é generosa em tudo. Abraço,
Concha

concha celestino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
concha celestino disse...
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